o encontro

Postado por Taiane Maria Bonita , terça-feira, 28 de julho de 2009 19:27

Conheci certa data um sujeito metido a sabido, por onde quer que passasse dava um jeito de mostrar a quem quer que fosse que ele era o sujeito mais sabido das redondezas. Sua verdade era a certa, com ele não tinha papo de pontos de vista diferentes, de subjetividade, ou qualquer cousa que fosse.
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Esse sujeito almejava em ser o centro das atenções, aquele que descobre tudo. Procurava pelo sentido de tudo, o motivo de tudo, se bobeasse ele queria ser mesmo doutor de tudo. Para ele as coisas estavam claras, tudo o que acontecia na sua vida era uma construção de todos os eventos que tinham acontecido até então. Uma coisa óbvia? É, talvez! Talvez seja esse o fato, tudo na vida desse sujeito era óbvio, quem sabe óbvio demais.
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Tinha se formado numa boa faculdade com as melhores notas da turma e direito à uma menção honrosa no dia da formatura. Merecido reconhecimento pelos quatro anos que deixara os botecos, os perfumes das mulheres, o futebol com os amigos para se dedicar quase que exclusivamente às horas de leituras daqueles textos intermináveis. E claro, tinha conseguido entrar na tão sonhada faculdade através dos esforços da mãe solteira que trabalhava feito louca para manter o prodigioso filho num bom, e diga-se de passagem, caro colégio no centro da cidade.
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De fato, o tal sujeito, era digno de todo o sucesso que havia alcançado. E havia os que diziam que mesmo toda sua arrogância era justificada pelos anos de esforço que carregava nas costas. “Ele está mais do que certo em procurar a verdade de tudo. E quem discorda sofre do terrível mal da inveja.” – era o que diziam os que lhe defendiam.
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Já os que discordavam, mantinham pensamentos diversos destes. Afirmavam que ele estava se frustrando demais com essa eterna busca da verdade em tudo. E se ele a encontrasse, quando a encontrasse o que faria? Ou se descobrisse que a verdade simplesmente não existe? Bem, isso já uma outra história. E temo me alongar por horas se, por acaso, eu resolver adentrar tal discussão.
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Conheci esse sujeito num momento decisivo de sua vida, e receio que ele nem soubesse disso na época. Numa dada situação, ele veio à minha cidade por motivo de uma visita a alguns parentes. Sabe como é?! O sujeito vinha da cidade grande, acostumado com o emaranhado de ruas e avenidas que a cidade grande tem. Minha cidade é do interior, e não pense interior como aquelas cidades que ficam perto de Campinas. Ela era menor que isso, cinco mil habitantes em época de superlotação. A maioria dos jovens ia embora após terminar o segundo grau, e se Deus permitisse nunca mais voltaria.
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A área de circulação da minha cidade era uma avenida principal e meia dúzia de ruelinhas que levavam aos bairros mais afastados. Dá até pra imaginar como o sujeito julgou tudo aquilo muito estranho. Acostumado a andar sozinho na imensidão da cidade grande, e muito metido a sabichão que era, resolveu perambular pelas simples ruelas da minha cidade. E negou quando um de seus parentes se ofereceu para acompanhar-lhe. “Não há maneira de eu me perder aqui.” – foi o que disse em resposta. No entanto, o fato é que se perdeu. Em meio a todo o seu conhecimento teórico e seu discurso pomposo, ele se perdeu entre meia dúzia de ruelas que só poderiam o levar a um único lugar, a avenida principal.
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Foi nesse momento que o conheci, ele andava cabisbaixo, com jeito de quem tem vergonha da própria sombra. Confesso que ao ver aquela cena muito fiquei intrigada, ele parecia realmente perdido. Mas como poderia alguém se perder ali? Não ali, não na minha cidade.
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Eu não sou de falar com estranhos, mas também não podia deixar de saciar minha curiosidade em saber o que se passava com aquele sujeito. Aproximei-me, de mansinho, com aquela cara de criança que está prestes à aprontar alguma traquinagem e perguntei o que se passava. Disse-me que estava perdido e não sabia como isso tinha acontecido. Sorri para ele. E não sei como sei, mas sei que no momento em que meus lábios se abriram num sorriso algo aconteceu. Algo no olhar daquele sujeito mudou, sua expressão se transformou.
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Tal mudança me desconcentrou, puxei pelo fio o pensamento que já me escapava pela direita, e falei de meus cadernos. Não! Não de meus cadernos, mas dos labirintos que desenhava neles na minha infância. Ele sorriu, também sabia que algo tinha mudado.
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Nunca mais vi o homem que procurava as verdades, mas sei que daquele dia em diante ele deixou de procurá-las.

Aimer

Postado por Taiane Maria Bonita , segunda-feira, 27 de julho de 2009 13:33

Por anos procurei a resposta
que filósofo algum foi capaz de me dar...

Vasculhei a profundezas de meu ser
atrás da origem
dessa força inexplicável
e fatal que mediava essa união

Encontrei apenas uma:
Por que era você,
Por que era eu.


Mais um da série Montaigne me ensinou!

Écrire

Postado por Taiane Maria Bonita , quinta-feira, 9 de julho de 2009 22:22

Escrevo,
antes daquilo que sei
e das coisas que aprendi nos livros
escrevo do que sinto

Minha mão
segue o traço desenhado pelo meu espírito
e verbaliza o que meu coração dita




Da série, Montaigne me ensinou!

Do âmago, ao poeta

Postado por Taiane Maria Bonita , sexta-feira, 3 de julho de 2009 13:45

“A maior abstração de nossa existência só é plena quando compartilhada” palavras que saltam da boca do poeta e em vez de seguirem o fio dos neurônios tomam o rumo contrário, acertando aquele que há tanto esperava por tal carícia. O órgão inflava com cada palavra que o atingia, e sua dimensão oprimia aqueles encarregados de suprir o ar de suas células. Ar, elemento que faltou aos corpos que se postavam um diante do outro. Sim, a pluralidade da matéria, entretanto, naquele momento deu-se algo tão singular, seus espíritos agora completos sentiam seu órgão vital bater numa única freqüência. Entenda-se! As cousas do sentimento não são para serem entendidas, resguardo-me a gravar com brasa na memória de meu tempo o momento exato que em que senti o ar escapar de meus pulmões. “E deixo os passos de cada batida trilhar pacientemente a compreensão.”


Ver: http://letrasnoexilio.blogspot.com/2009/06/ao-traunseunte-desconhecido.html