Une journée comme turiste [ou pas]

Postado por Taiane Maria Bonita , domingo, 12 de dezembro de 2010 13:57


Prezados leitores prestais bem atenção no que vou vos dizer: vida de historiador não é fácil. Além de ter que lidar com as dificuldades que a profissão nos traz – não se iluda; se você estudante desavisado pretendia fazer história e ficar milionário ao final da faculdade, creio que seja melhor trocar de ramo. Além disso, temos ainda que conviver com nós mesmos.

Sim! Historiador é chato. Se você, que lê esse texto agora, é um historiador reconheça: você é um pé no saco. Você problematiza tudo, questiona tudo, você teoriza tudo.

Meu caro amigo, se você é um estudante de história e não se encaixou no perfil acima descrito aconselho que volte para a faculdade e refaça as matérias que reprovou por FI (freqüência insuficiente).

Futuro historiador conforme-se. Ao final dos quatro anos de faculdade você receberá o tão sonhado diploma e mais um certificado de chato, inteiramente grátis. Eu mesma já admiti, vesti a camisa e para aqueles que me perguntam respondo sou historiadora (logo sou chata). Se por um lado percebo que não consegui fugir da maldição do historiador por outro isso me deixa feliz, pois significa que até agora consegui passar em todas as matérias sem problemas – mamãe deve estar feliz.

Mas hoje...

Hoje foi o dia que tive certeza de que sou uma historiadora. Já faz uma semana que estou em Paris. Sim, PARIS! A cidade das lumières, a bela e romântica Paris; sonho das mocinhas apaixonadas.

As pessoas falam que estou em Paris como se eu estivesse em Marte. Paris é apenas uma cidade, linda, charmosa e apaixonante; mas uma cidade. Compreendo a atmosfera criada sobre este lugar, compartilhei por esse sentimento por um longo tempo. Mas acontece que sou uma historiadora.

Não me é suficiente passar férias no lugar onde 80% das pessoas do mundo já sonhou em estar, eu tenho de problematizar algo. Visito Paris como quem visita uma velha amiga, nos encontramos depois de um longo tempo. E o que me prende atenção não são os imensos monumentos, ou a arquitetura megalomaníaca datada de século XIX; são as pessoas. Ou melhor, a relação que as pessoas têm com esta cidade.

Enquanto metade do mundo sonha em passear de mãos dadas pela Champs-Élysées, os franceses evitam essa avenida por causa dos engarrafamentos. Enquanto os turistas não conseguem dar dois passos sem deixar cair seus queixos ou levantar as máquinas fotográficas, os parisienses atravessam o Sena preocupados com o horário do próximo metrô. É esse o incrível de uma viagem, ver como diferentes pessoas em diferentes partes do mundo percebem a cidade onde vivem.

Pois não importa onde você mora Paris, Roma ou Veneza no final a cidade, mesmo com toda sua carga histórica, construções monumentais ou status mundial, é apenas uma cidade; como qualquer outra.

Obviamente me permito meus momentos de turista. Máquina no pescoço para aderir à moda e sorriso estampado no rosto. Afinal de contas c’est bien jolie de imaginar a queda Bastilha aos 14 de julho de 1789 ao passar pela Place de la Bastille; ou pensar nas tropas de Napoleão adentrando Paris ao olhar para o Arco do Triunfo. Ou ainda me impressionar com os entrelaçados de ferro da Torre Eiffel – aquela que foi construída como um monumento temporário para celebração do centenário da Revolução Francesa e se tornou um dos maiores símbolos de Paris e um dos monumentos mais visitados do mundo.

Vantagens de ser uma historiadora – era impossível que só tivessem desvantagens – conhecer e apreciar uma cidade para além de sua estética, para além de seu ar encantador. Conhecer uma cidade com os olhos de quem estuda a história.

Ça me plaît beaucoup!

Memórias de um vôo!

Postado por Taiane Maria Bonita , terça-feira, 7 de dezembro de 2010 12:36


[parte 02]

Quando o mistério se apresentar: perceba-o. Já li alguns textos ao longo de minha vida acerca de pessoas que clamam aos céus sem que tenham os olhos atentos e os ouvidos abertos para receberem uma resposta.

Ontem pedi por guarnição. Muitos julgam que se lançar ao desconhecido com a cara e a coragem significa tão somente não temer o que há de vir; para mim, um passo de coragem – para além da incerteza do que virá e do peito aberto para o desconhecido – deve ser respaldado por aquele que nos guarnece.

Do meu lado direito, pela pequena abertura da janela do avião de onde tudo o que se via era a escuridão da noite fria da Europa, um ponto começou a brilhar.

De início acreditei que seria um reflexo de algo no interior do avião. A noite lá fora estava negra que podia-se cogitar a hipótese de que a aeronave estava perdida no vazio do espaço. Qualquer objeto luminoso para fora daquele avião poderia ser um ET numa bicicleta, ou o próprio disco voador.

Mas acontece, caro leitor, que tinha algo lá fora que brilhava! E não era nem ET, nem OVINI. Fixei por um tempo meu olhar na ola de luz para procurar entender o que seria, a 11 mil pés de altitude dificilmente se trataria de uma antena.

A possibilidade de ser uma estrela me passou pela cabeça, entretanto, se o fosse por que um céu tão escuro? E por que eu só via um único ponto brilhante? Pela luz que aquilo emanava, se fosse uma estrela; era uma estrela digna de um céu repleto delas. Ela se postava, no entanto, solitária no céu.

Perto da aterrissagem, quando meu coração resolveu ter taque cardíaca, e finalmente o sol resolveu dar o ar de sua graça; quando o céu brincava com as cores e ensaiava tonalidades, exibindo um belo painel em tons de azul e laranja; voltei novamente minha atenção para aquele ponto.

E reconheci aquela que sozinha me acompanhava: a estrela do norte. Agradeci! Quando o mistério se apresentar, por favor, perceba-o!

Memórias de um vôo

Postado por Taiane Maria Bonita , segunda-feira, 6 de dezembro de 2010 14:51


[parte 01]

Engraçado todas as outras vezes que entrei num avião eu estava acompanhada. O fato de entrar num avião e sobrevoar os céus já possibilita uma sensação de liberdade, que por causa de fobias nem todos vivenciam. Agora, ao entrar sozinha nessa máquina de ferro que desbrava os ares, a sensação de liberdade que me toma nesse minuto e tamanha que me sufoca.

Talvez não seja o exterior, talvez não seja as nuvens que logo estarão passando sob os meus pés. O fato é que o que sinto é que posso alcançar todo o mundo, e me dou conta do quão pequena sou.

Toda sensação de supra liberdade me reduz ao tamanho que sou, o de um ser humano. Assim, ainda tão imperfeito, tão insignificante se comparado à imensidão azul do céu que me proponho a desbravar nesse momento.

Ao que me parece tomar consciência da grandeza das coisas que nos cercam, coloca sobre o peito a responsabilidade de ser tão pequeno. Se é assim tão minúsculo meu tamanho diante do todo, só me resta colocar-me no lugar que ocupo, o de aprendiz. E arcar com as responsabilidades que dele me são atribuídas.

O ronco do motor do avião é intenso como meu coração nesse momento; estranhamente, à medida que as turbinas aumentam sua rotação e ganhamos velocidade para decolagem, meu órgão vital se põe calmo. Movimento inverso daquele que eu esperava.

O grande pássaro de metal ganha altura e toma seu lugar dentre as nuvens. Me ligo ao azul do céu, enquanto contemplo a doce brancura das nuvens.

Aqueles que crêem somente naquilo que enxergam têm um mundo muito pequeno. Faço-me grata por acreditar em mais do que os meus olhos vêem, acredito naquilo que meu peito sente.

O nó apertado em minha garganta se desfaz. E agora, eu vôo.