Bater de asas

Postado por Taiane Maria Bonita , sexta-feira, 26 de junho de 2009 14:01


O som do bater de suas asas chegou suavemente aos meus ouvidos, parecia-me estranho ouvi-la naquela sala repleta de luz e tinta branca. A mulher que se postava à frente não cessava sua oratória, sem nem ao menos reparar aquelas asinhas tão delicadas que enchiam de vida o local, normalmente tão vazio.


Não! Vazio, não. Cheio.


Repleto de idéias e de discussões, e repleto de cabeças aflitas que ansiavam em ficar cada vez mais aflitas e cada vez mais cheias. Cabeças aflitas e pensantes, trancafiadas e abafadas por paredes brancas e mulheres falantes. Cabeças limitadas e acorrentadas por regras, padrões e currículos.


E o que será daquelas asinhas alheias à todo esse pseudo-empirismo e essa falsa erudição? O bater de suas asas acarretaria em conseqüências inimagináveis do outro lado do globo terreste. Se tais asas são assim tão poderosas, o que fazem elas perdidas e ignoradas entre quadro paredes de tinta branca?


Ouço a mulher falante, olho para o relógio pela milésima vez, e desvio o olhar para as asinhas coloridas, agora pousadas no centro da tinta branca.

(Obra de Salvador Dalí)

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